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Capítulo 7 de 16

1Os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém tinham se reunido em torno dele.

2E perceberam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as lavar.

3(Com efeito, os fariseus e todos os judeus, apegando-se à tradição dos antigos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;

4e, quando voltam do mercado, não comem sem ter feito abluções. E há muitos outros costumes que observam por tradição, como lavar os copos, os jarros e os pratos de metal)

5Os fariseus e os escribas perguntaram-lhe: “Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras?”.

6Jesus disse-lhes: “Isaí­as com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.

7Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (29,13).

8Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens”.

9E Jesus acrescentou: “Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição.

10Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e: Todo aquele que amaldiçoar pai ou mãe seja morto.

11Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe: Qualquer coisa que de minha parte te pudesse ser útil é corban, isto é, oferta,*

12e já não lhe deixais fazer coisa alguma a favor de seu pai ou de sua mãe,

13anulando a Palavra de Deus por vossa tradição que vós vos transmitistes. E fazeis ainda muitas coisas semelhantes”.

14Tendo chamado de novo a turba, dizia-lhes: “Ouvi-me todos, e entendei.

15Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem.

16[A bom entendedor meia palavra basta.]”.

17Quando deixou o povo e entrou em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe acerca da parábola.

18Respondeu-lhes: “Sois também vós assim ignorantes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode tornar impuro,

19porque não lhe entra no coração, mas vai ao ventre e dali segue sua Lei natural?”. Assim ele declarava puros todos os alimentos. E acrescentava:

20“Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem.

21Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos,

22adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez.

23Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem”. (= Mt 15,21-28)

24Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse. Mas não pôde ficar oculto,

25pois uma mulher, cuja filha possuía um espírito imundo, logo que soube que ele estava ali, entrou e caiu a seus pés.

26(Essa mulher era pagã, de origem siro-fenícia.) Ora, ela suplicava-lhe que expelisse de sua filha o demônio.

27Disse-lhe Jesus: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não fica bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães”.

28Mas ela respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos”.

29Jesus respondeu-lhe: “Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o demônio, de tua filha”.

30Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama. O demônio havia saído. (= Mt 15,29ss)

31Ele deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por Sidônia ao mar da Galileia, no meio do território da Decápole.

32Ora, apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão.

33Jesus tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva.

34E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: “Éfeta!”, que quer dizer “abre-te!”

35No mesmo instante, os ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente.

36Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o publi­cavam.

37E tanto mais se admiravam, dizendo: “Ele fez bem todas as coisas. Fez ouvirem os surdos e falarem os mudos!”. (= Mt 15,32-39)