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Capítulo 2 de 14

1No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram a tal ponto o espírito, que perdeu o sono.*

2Mandou chamar os escribas, os mágicos, os feiticeiros e os caldeus para lhe fazerem a interpretação. Estes vieram apresentar-se diante do rei.

3“Tive um sonho”– disse-lhes – “e meu espírito se consome à procura do significado.”

4Os caldeus responderam ao rei: “Senhor, longa vida ao rei! Narra teu sonho para que teus servos deem a interpretação”.*

5O rei disse aos caldeus: “Para mim é coisa decidida: se não me explicardes o conteúdo do sonho bem como sua significação, sereis estraçalhados e vossas casas reduzidas a um montão de imundícies.

6Mas se me revelardes tanto o conteúdo quanto a significação do sonho, recebereis de mim donativos, presentes e grandes testemunhos de honra. Portanto, dizei-me meu sonho e o que ele significa”.

7De novo responderam: “Que o rei narre o sonho a seus servos e nós faremos a interpretação”.

8“Sei agora perfeitamente” – continuou o rei – “que procurais ganhar tempo, porque sabeis que estou bem decidido

9a aplicar-vos a dita sentença, se não me revelardes o conteúdo de meu sonho. Estais combinados a mentir-me e a enganar-me, esperando que as circuns­tâncias mudem. Vamos, dizei-me o que sonhei e eu saberei se sois capazes de dar a interpretação.”

10Os caldeus deram ao rei esta resposta: “Não há homem algum sobre a terra que possa fazer o que exige o rei. E, de fato, jamais rei algum, por maior e mais poderoso que tenha sido, pediu tamanha coisa a um escriba, mágico ou caldeu.

11A questão proposta pelo rei é difícil e ninguém poderia dar a solução ao rei, a não ser os deuses que estão excluídos do trato com os seres carnais”.

12Com isso, o rei encolerizou-se e, na sua fúria, deu ordem para matarem todos os sábios da Babilônia.

13A sentença foi publicada e o massacre dos sábios começou. Procuravam Daniel e seus companheiros para matá-los,

14quando este dirigiu a Arioc, chefe da guarda do rei, que havia saído para exe­cutar todos os sábios babilônios, palavras cheias de prudência e sabedoria:

15“Por que” – perguntou-lhe – “uma sentença tão severa da parte do rei?’’. Arioc expôs-lhe o assunto,

16e logo Daniel se decidiu ir ao rei, para pedir-lhe a concessão de uma prorrogação: daria então ao rei a interpretação pedida.

17Logo que voltou do rei, Daniel pôs a par do assunto seus companheiros Hananias, Misael e Azarias.

18Pediu-lhes para implorarem a misericórdia do Deus dos céus a respeito desse enigma, a fim de que não matassem Daniel e seus compa­nheiros com o resto da Babilônia.*

19O mistério foi então revelado a Daniel em uma visão noturna. Pelo que, bendizendo o Deus dos céus,

20Daniel expressou-se como segue: “Bendito seja o nome de Deus de eternidade em eternidade, porque a ele pertencem a sabedoria e o poder!

21É ele quem faz mudar os tempos e as circunstâncias; é ele quem depõe os reis e os enaltece; é ele quem dá sabedoria aos sábios e talento aos inteligentes.

22É ele quem revela os profundos e secretos mistérios, quem conhece o que está mergulhado nas trevas, junto ao qual habita a luz.

23Ó Deus de meus pais, eu vos exalto e vos louvo, porque vós me destes a prudência e a força, e porque vós nos manifestastes o que vos pedimos, revelando-nos o sonho do rei”.

24Depois disso, Daniel foi procurar Arioc, a quem o rei tinha incumbido do massacre dos sábios da Babilônia. E falou-lhe assim: “Não mandes matar os sábios da Babilônia. Introduze-me à presença do rei para que eu lhe dê a explicação”.

25Arioc apressou-se em conduzir Daniel junto ao rei, dizendo-lhe: “Achei, entre os deportados da Judeia, um homem que dará ao rei a explicação desejada”.

26O rei dirigiu a palavra a Daniel que tinha o cognome de Baltazar: “És realmente capaz” disse-lhe “de desvendar-me o sonho que tive e fornecer-me a interpretação?”.

27“O mistério cuja revelação o rei pede” – respondeu Daniel ao rei – “nem os sábios, nem os mágicos, nem os feiticeiros, nem os astrólogos são capazes de revelar-lhos.

28Mas no céu exis­te um Deus que desvenda os mistérios, o qual quis revelar ao rei Nabucodonosor o que deve suceder no decorrer dos tempos. Eis, portanto, teu sonho e as visões que se apresentaram a teu espírito quando estavas em teu leito.

29Senhor, os pensamentos que vieram ao teu espírito, enquanto estavas em teu leito, são previsões do futuro: aquele que revela os mistérios mostrou-te o futuro.

30Quanto a mim, se esse mistério me foi desvendado, não é que haja mais sabedoria em mim do que nos outros homens, mas para eu dar ao rei a interpretação, a fim de que se faça luz nos pensamentos do teu coração.”

31“Senhor: contemplavas, e eis que uma grande, uma enorme estátua erguia-se diante de ti; era de um magnífico esplendor, mas de aspecto aterrador.

32Sua cabeça era de fino ouro, seu peito e braços de prata, seu ventre e quadris de bronze,

33suas pernas de ferro, seus pés metade de ferro e metade de barro.

34Contemplavas essa estátua quando uma pedra se descolou da montanha, sem intervenção de mão alguma, veio bater nos pés, que eram de ferro e barro, e os triturou.*

35Então o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro foram com a mesma pancada reduzidos a migalhas, e, como a palha que voa da eira durante o verão, foram levados pelo vento sem deixar traço algum, enquanto que a pedra que havia batido na estátua tornou-se uma alta montanha, ocupando toda a região.

36Eis o sonho. Agora vamos dar ao rei a interpretação.*

37Senhor: tu que és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu realeza, poder, força e glória;

38a quem ele deu o domínio, onde quer que habitem, sobre os homens, os animais terrestres e os pássaros do céu, tu és a cabeça de ouro.

39Depois de ti surgirá um outro reino menor que o teu, depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará toda a terra.*

40Um quarto reino será forte como o ferro: do mesmo modo que o ferro esmaga e tritura tudo, da mesma maneira ele esmagará e pulverizará todos os outros.*

41Os pés e os dedos, parte de terra argilosa de mo­delar, parte de ferro, indicam que esse reino será dividido: haverá nele algo da solidez do ferro, já que viste ferro misturado ao barro.

42Mas os dedos, metade de ferro e metade de barro, mostram que esse reino será ao mesmo tempo sólido e frágil.

43Se viste o ferro misturado ao barro, é que as duas partes se aliarão por casamentos, sem porém se fundirem inteiramente, tal como o ferro que não se amalgama com o barro.*

44No tempo desses reis, o Deus dos céus suscitará um reino que jamais será destruído e cuja soberania jamais passará a outro povo: destruirá e aniquilará todos os outros, enquanto que ele subsistirá eternamente.*

45Foi o que pudeste ver na pedra deslocando-se da montanha sem a intervenção de mão alguma, e reduzindo a migalhas o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. Deus, que é grande, dá a conhecer ao rei a sucessão dos acontecimentos. O sonho é bem exato, e sua interpretação é digna de fé.”

46Nesse instante, o rei Nabucodonosor atirou-se de rosto em terra, prostrado diante de Daniel; depois ordenou que lhe fossem oferecidos oblações e perfumes.

47Dirigindo-se a Daniel, disse o rei: “Vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; é também o revelador dos mistérios, já que pudeste revelar este”.

48O rei elevou Daniel em dignidade, deu-lhe numerosos e ricos presentes; constituiu-o governador de toda a província da Babilônia e o tornou chefe supremo de todos os sábios da Babilônia.

49Daniel pediu ao rei e confiou a Sidrac, Misac e Abdênago a administração da província da Babilônia. E Daniel perma­neceu na corte real.*